Análise: Sob a Pele de Jonathan Glazer

16 junho 2014 Nenhum comentário

Em 2004, chegava aos cinemas, silenciosamente mas com toda a polêmica, o segundo longa do diretor Jonathan Glazer, Reencarnação, com Nicole Kidman e o pequeno Cameron Bright que protagonizam um romance pedófilo, onde o garoto afirma ser o esposo de Anna, Nicole, morto dez anos antes. Bem abaixo da média de considerações do público e da crítica, o polêmico beijo entre a mulher e a criança, não é o suficiente e o filme foi esquecido e abandonado nas prateleiras das locadoras, tão lotadas naquele tempo. Dez anos depois, Jonathan parece ter descoberto a ficção científica, e plausivelmente apresenta Sob a Pele, suspense que nos tira da zona de conforto como seres humanos, apresentando uma das melhores metáforas sobre nossa sociedade.
O plano de fundo e representativo da humanidade é uma Escócia silenciosa, íntima, uma cidade tão fria quanto seus moradores, nas ruas, uma bela alienígena percorre cada movimento de homens solitários, presas para seu consumo. Assim, Scarlet Johansson faz transcorrer sua sensualidade  que em poucas palavras surge a tela, mas em prática que na teoria. O batom vermelho sempre retocado, as roupas sempre coladas ao corpo e as jaquetas de pelos de animais definem suas armas para a caça.
Selecionar, atrair e seduzir é a receita utilizada pela linda alienígena, que faz suas vítimas sempre de forma racional e quando deixado algum vestígio, motociclistas, outros aliens que percorrem a cidade,  aparecem para fazer o limpa nas cenas dos sequestros. Sempre em si e dona da situação, ela sucumbi a descobrir o ser humano como um ser mutável, que defere-se entre si, descobrindo assim um sentimento de apatia pelo, antes caça, agora caçador. 
Quando dentro da descoberta do ser humano, a alien deixa de ter o controle da situação. Quem antes caçava e devorava ludicamente suas vítimas, agora está inserida e desprotegida do homem humano. Do receio de interação, antes movido pela frieza sem cálculos, capaz de abandonar crianças ao relento de um mar revolto,  agora, desprotegida em corpo e mente, Scarlett consegue com expressões e movimentos corporais denunciar a todos sua capacidade híbrida da personificação das angústias do alien forasteiro. 
Se Glazer, expõe pela cartela de cores de sua fotografia mórbida, por vezes claustrofóbica causar ao expectador uma tensão súbita, comparada por alguns críticos as mesmas tão bem guardadas nos clássicos de Stanley Kubrick como O Iluminado e Laranja Mecânica, ele graciosamente complementa com a trilha sonora que ao somatório de planos bem estruturados e cortes devidamente instalados dentro da narrativa, torna Sob a pele não apenas um achado histórico na atual catalogação dos filmes de suspense e sim, possivelmente, o melhor desta última década. 
 
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