Um filme tem na sua primícia básica entreter,
contar uma história que nos transporte e nos faça dá importância, durante o
tempo de exibição, à vida do personagem e toda a sua trajetória, e sorte do filme que consiga causar no
expectador um delírio que transborde, além da atenção, a emoção. O Regresso, filme estadunidense com
doze indicações ao Oscar, consegue ir mais além desta primícia, bem mais além.
A mexicano Alejandro González Iñárritu,
vencedor do Oscar de melhor filme em 2015 por Birdman, assina a direção de O Regresso, comprovando que a Academia
realmente tem acertado nos últimos anos em seu indicados e vencedores. A
Naturalidade já comprovada do diretor em criar filmes com situações
imediatistas e extremamente exaltantes em tela cria uma maturidade
avassaladora nesta nova obra, O Regresso
suga o expectador para uma história incrível que se desenvolve em um mar de
planos sequências e grandes planos abertos.
O longa é baseado no lendário Hugh Glass, uma figuraça mitológica da cultura
norte-americana que viveu nos anos de 1800 uma das mais impressionantes
histórias reais de sobrevivência de um homem. Glass, ferido exaustivamente por
um urso é abandonado pelos companheiros e deixado para morrer dentro de uma
cova rasa, porém, o explorador consegue sobreviver ao inverno rigoroso do Velho
Oeste e rastejando atravessa todo um território selvagem, motivado pela
vingança daqueles que o deixaram para trás.
Leonardo DiCaprio, vencedor do Globo de ouro
por sua brilhante atuação como Hugh Glass, consegue sobre um olhar sempre frio
e um silêncio feito de sussurros e dores, dá aos restos vitais de seu
personagem, uma masculinidade proveniente de uma real busca pela vida. DiCaprio
determina ao forte e lendário americano um ar de superioridade a qualquer outro
ser humano, até mesmo a morte, que embora sempre presente, até quase como um
personagem antagonista, não o consegue derrotar ou nutrir seus últimos segundos de vida.
As duas horas e trinta e seis minutos de filme
correm como um pássaro a sobrevoar os cenários incríveis que compõem e
complementam a beleza do filme. Alejandro consegue liberar a visão do
expectador, permitindo-o a acompanhar a trajetória de Glass, como ele
merece, sentir suas angustias da solidão
do mundo e da crueldade do ser humano que além de jogá-lo ao frio e as pestes,
ainda são capazes de lhe roubar os seus maiores amores e até mesmo a vida. O Regresso antes de contar a
história do homem que a morte não levou, conta o poder da fraqueza, onde não
sobrevivem os mais fortes, e sim os que possuem algum motivo de existência. No
caso de Glass, a vingança.