Relatos selvagens: Filme sobre nossa ira interior.

25 outubro 2014 Nenhum comentário
O cinema é o meio mais real para se contar histórias vivas, com começo, meio e fim (que podem ser apenas um novo recomeço), meio em que o emocional domina lotado de sentimentos, da angústia dos filmes de terror, aos romances adocicados com trilhas melosas e, por fim, aqueles que nos transportam para a tela como parte integrante ou os próprios personagens, são filmes que possuem o poder de gritar aos nossos ouvidos: "Essa história poderia ser sua!" ou "Esse protagonista poderia ser você!". O jovem diretor argentino Damián Szifron, escreveu e dirigiu seis histórias de diversas vertentes da sociedade urbana que nos converte e provoca individualmente identificações com seus personagens, e as reuniu em uma só obra cinematográfica, intitulada: Relatos Selvagens.
 
O sucesso de público na Argentina, com mais de três milhões de espectadores, fez com que o longa fosse o escolhido à concorrer uma vaga aos indicados na categoria de melhor filme estrangeiro no Oscar 2015, concorrendo com o nosso "Hoje eu quero voltar sozinho". A estreia no Brasil aconteceu na Mostra de Cinema de São Paulo, despois de seu grande reconhecimento como o único filme latino-americano na competição oficial do Festival de Cannes, onde foi aplaudido de pé após a exibição. (Por coincidências previsíveis, o mesmo aconteceu na sala em que estava, palmas eclodiram durante e após o filme).
 
Relatos selvagem é uma grande malha costurada por seis pedaços (inteiros) de histórias contadas em terceira pessoa. Livremente baseadas em fatos do cotidiano e banhadas em um humor negro de gargalhadas certeiras, o longa dança por cima de seu próprio bem feito, as histórias acontecem de forma a fomentar no espectador o sentimento de querer sempre mais, de sugar ao máximo o poder de cada conto, satisfazendo-se com cada detalhe e pedaço da aventura dos protagonistas que ligeiramente passeiam pela tela, até sumirem nos clímax de seus próprios devaneios.
 
O Ser humano é sem dúvidas um ser movido pela ação e reação, e todos os dias somos testados dentro desses limites: Até onde você iria para proteger o filho que matou irresponsavelmente alguém? Até onde você vingaria o culpado pelo suicídio do seu pai? A traição do seu recém marido? E até mesmo, o que você faria quando cansado estivesse do mundo e das pessoas que tanto te fizeram mal? A verdade é que devemos continuar a vida e deixar tudo isso passar, nossa leis e a moral da sociedade não nos permitirá nunca causar dano por conta de um dano sofrido, é tipo pagar o mal com o mal, esqueça isso e entre de cabeça na ira dos personagens de Relatos Selvagens.
 
Ir ao cinema é conferir histórias de outras vidas, mas desde já deixo meus agradecimentos a mente fértil e doentia no estágio 2 do criativo Szifron, que apresentou em seu filme, mas do que a história dos outros: apresentou nossas histórias interiores, aquelas que planejamos e executamos em nossa mente, mas que a falta da coragem de coloca-las em práticas nos qualifica como seres humanos melhores. Um pouco melhores.
 
 
 
 
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