Azul Resplendor - Peça faz linda homenagem ao teatro

18 agosto 2014

Para curar um domingo vazio e sem graça como tantos outros, aceitei o convite de um amigo para ver uma peça em seu ultimo dia de apresentação de uma curtíssima temporada de final de semana. Verifiquei os atores principais de Azul Resplendor, e logo me animei a ir conferir Eva Wilma, uma das mais soberbas atrizes brasileiras no palco. Tive inúmeras surpresas nesta noite de domingo, que possivelmente, como já dito, tantos outros, acabaria apenas com o episódio inédito de uma série que acompanho na preguiça pós-fantástico.

Azul resplendor é uma homenagem ao teatro, eu sou fã de metalinguagens, adoro quando a arte fala sobre si mesma, o autor Eduardo Adrianzén, premiadíssimo na cena hispânica, discorre sobre a verdade nua e crua do camarim das celebridades ocas, musculosos, vaidosas e claro, daqueles que amam estar no palco, com personagens tão caricatos quanto aqueles que acompanhamos no cotidiano pelas revistas e sites de fofoca.

No drama, Tito Tápia (Renato Borghi) é um ex-ator que nunca conseguiu um papel de destaque, considerado ruim pelos colegas de profissão, sua inexpressividade o levou a desistir do teatro, mesmo amando-o mais que a si mesmo, para dedicar-se a cuidar da mãe doente, que ao falecer, deixou uma herança significativa, encoranjando-o a ir em busca de um antigo amor, Blanca Estela Ramírez, uma grande estrela de seu tempo, agora aposentada. Tito convence a decadente Blanca Estela a unir-se a ele no projeto de sua autoria, onde faz homenagem as mulheres de sua vida: Blanca, sua mãe e avó já falecidas.


As entranhas do teatro são apresentadas em cada personagem que surge aos poucos em cena, da decepção de Blanca que vive seus últimos dias tentando conviver com sua própria decadência que chegou junto a velhice, de Tito Tápia que não aproveitou a vida e tão pouco dedicou-se mais aos palcos, ao avassalador diretor Antônio Balaguer, consagrado arrogante que vive o ápice de seu sucesso, junto a sua assistente, Glória Campos, personagem traumatizada por viver as sombras do famoso diretor e para encerrar com maestria os caricatos personagens; a bela e vazia Luciana Castro, atriz reconhecida por sua beleza e futilidade, e o musculoso Giancarlo Varoni, ex-modelo que conseguiu alguns bicos como ator e fez sucesso devido seu avantajado corpo físico.


Azul resplendor é uma linda homenagem a vida, aos palcos, a histórias contadas em cada peça de teatro, ao encanto que é viver e sonhar junto a personagem que guardamos na memória. Mesmo com doses altas de ironias, por vezes um humor escrachado e claro, o dramalhão que coça os olhos,  cada ato é apresentado com delicadeza e diálogos ágeis,  deixando bem claro que a vida imita a arte, que o tempo passa, que a vida segue seu rumo, e que como o fogo, ao morrer, ele libera uma pequena faísca azul, e esse azul é o seu resplendor.

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