Todo
ser humano é um exímio perdedor, todos somos obrigados a abdicar de algo que
queremos muito, afinal nunca poderemos ter tudo em nossa vida, e caso possamos
possuir mesmo em uma condição de remota denominada “sonho”, teremos que lutar
muito para alcançar, pode ser um amor, pilotar um jato, conseguir publicar um
livro ou vencer um concurso de beleza. Este é o princípio da emocionante
narrativa do Pequena Miss Sunshine, filme de 2006 dirigido pela dupla Jonathan
Dayton e Valerie Faris.
A
Família comandada pelo casal Sheryl, Toni Collette em uma das suas melhores
atuações desde o Sexto sentido (1999) quando foi indicada ao Oscar, e Richard, interpretado
por Gregory Kinner, indicado ao Oscar em Ator Coadjuvante pelo seu trabalho em
Melhor é impossível de 1998, precisam manter a família estruturada, o que não é
nada fácil quando se percebe a situação moral em que cada integrante se
encontra, e ainda ter que reuní-los em uma Kombi, para que juntos cheguem a
tempo para que a pequena Olive possa desfilar no concurso Miss Sunshine, a
garotinha é um show a parte, o talento e a experiência infantil da meiga
Abigail Breslin, a Bo Hess de Sinais (2002), é a responsável por boa parte do
melhor que o filme tem a oferecer de aprendizado para a vida.
No
caminho até a cidade californiana aonde acontecerá o concurso, a família
precisa encarar juntos os dilemas que até então eram individuais. Do suicídio
mal sucedido de Frank, Steve Carell em uma de suas primeiras atuações no
cinema, do silêncio dramático do jovem Dwayne, Paul Dano de Sangue Negro
(2007), que desejar entrar para a escola de pilotos de caça, e o uso de heroína
pelo avô, pai de Richard, que expulso do asilo devido mal comportamento, está
no meio da família sendo o responsável para ensaiar Olive para a apresentação
no desfile.
Todos
os problemas são cobertos pela cobertura amarga do casamento em fiasco de
Sheryl e Richard, que tentam suportar cada um da sua maneira a família
problemática que levam como passageiros dentro da Kombi na estrada da vida.
Sheryl, acreditando que a realidade deverá ser mostrada sempre, não escondendo
para a filha de apenas 7 anos que o tio tentou se matar por que tinha um amor
não correspondido por outro homem, e Richard, que aguarda a resposta de um
produtor para lançar um livro onde fala das 9 regras para ser um vencedor, as
quais ele tenta seguir repassando-as para a família, repetindo as regras todo o
instante para todos, cansando com sua falsa esperança de que para ser vencedor
é necessário nunca pedir desculpas e nem desistir fácil dos objetivos.
Todos
no filme são perdedores, não que piadas não existam e tão pouco que eles não
sejam felizes. A Família mesmo cercada de problemas, também se amontoam em
olhares, gestos e carinho, que mesmo subconsciente e não mostrado para as
câmeras existem de alguma forma, sendo o elo de ligação a pequena Olive, que no
seu sonho de ganhar o desfile, encoraja a todos. Se um dia, filmes como Pequena
Miss Sunshine pararem de ser produzidos será uma perca enorme para o cinema,
pois desde a sombra do neo-realismo italiano, mostrar a fraqueza do ser humano
é mostrar o melhor lado, pois é neste que reina toda a força de sobrevivência,
aquela que pulsa enquanto tudo se desmorona.
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