O que estamos fazendo com o Brasil?

18 maio 2016


Em recente apresentação de Cláudia Raia no seu musical, Raia, 30, no belíssimo cineteatro José de Alencar em Fortaleza, Ceará, a atriz levantou uma questão partidária, quando, acredito que improvisado, diante dos acontecimentos políticos daquele enfadonho dia, bradou: O que seria pior na vida que dormir PT e acordar PSDB? Lembro que puxei as palmas, esta indagação tinha, exatamente, a indignação que eu havia deixado engasgar na garganta, por fim, o teatro todo ovacionou a colocação, alguns brandaram dali, outros daqui, mas em sua maioria, aplaudiu. Uma semana depois, assim como era esperado acontecer, a Presidenta Dilma foi afastada de seu cargo por 180 dias e o vice presidente, Michel Temer, tornou-se a maior autoridade do país. 

O Brasil escureceu-se, perdeu-se o brilho dos olhos de seus brasileiros, o encanto dos quilômetros de litoral pareceu secar, as estrelas parecem sem vida e o tempo não para de regredir. Como se as páginas que voavam por vencerem-se no limite das horas, retornam-se ao aspiral do calendário preso na parede da cozinha, e assim, o retrocesso dá-se cada vez maior. Um salto contrário ao tempo. Um governo que em 24 horas de posse retirou o direito a cultura de toda uma sociedade, e por achar pouco, retirou da sociedade o gay, a lésbica, a mulher ao, em um golpe único, provê o desaparecimento do ministério da Cultura e do ministério das mulheres, da igualdade racial e dos direitos humanos. 

As panelas que antes era batidas por um Brasil melhor, sem corrupção, deu espaço para combater o desemprego com mais desempregados.

O Protesto realizado pela equipe do filme Aquarius durante a premiere do filme no Festival de Cannes, quando com cartazes em inglês, português e francês, atores, atrizes e produção fez o mundo entender que o Brasil estava com um governo ilegítimo, que chegou ao poder com um golpe comandado pelo vice presidente. Enquanto o mundo todo reconhece a evidência do golpe instaurado dentro de nosso país, alguns de nossos vizinhos, brasileiros natos, continuam a acreditar que Temer chegou ao poder para acabar com a corrupção no país. E esses, até criticam a ação realizada durante Cannes, ao anunciar que os profissionais que ali estavam, são "mamadores" de dinheiro público. O pastor Marcos Feliciano, em vídeo postado em sua rede social, até sugeriu que esses, que reclamavam do fim do ministério da cultura fossem em busca do ministério do trabalho, mandando-os procurar emprego de verdade, por que trabalhar com cinema, não é emprego. Disse ele, que tem como profissão ser pastor. 

Para um filme sair do papel e chegar na telona é um processo árduo que envolve muitos PROFISSIONAIS, as três principais etapas do processo, formada pela pré-produção, quando estuda-se o roteiro, visita locações, contrata atores e toda a equipe, a produção, quando o filme começa a ser rodado com ajuda de eletricistas, motoristas, marceneiros, costureiros e etc, e por fim, a última etapa, a pós produção, quando vem edição do vídeo, divulgação e a exibição pelas centenas de cinemas em todo o Brasil. Imaginou a quantidade de pessoas, pais e mães de família e jovens que contribuem para que esse filme aconteça? E sabe qual o produto final? O encantamento de quem assisti o filme. Os 3 milhões que o ministério da cultura contribuiu para a produção de Aquarius, tenho certeza, que de longe não bancou nem metade do longa. Porém, fico feliz por não ter sido necessário para sua criação o 10% do salário de ninguém, como é para a retirada do salário do emprego de pastor do querido Marcos Feliciano. 

Em dezembro, quando ainda caminhava a passos lentos e algumas manifestações brancas todo o caos que hoje está formado, tive a imensa oportunidade de ver Thaís Araújo e Lázaro Ramos em cena no teatro da FAAP em São Paulo com a peça O Topo da montanha, o texto baseado nos últimos dias de vida de Martin Luther King marcou profundamente toda uma plateia, quando no último ato, a personagem de Thaís, enviada por Deus para recolher o espírito de Luther King, questiona se realmente conhecemos todos aqueles que lutaram pelos nossos direitos, dos diversos nomes internacionais, ela chega citar os brasileiros Milton Santos, Abdias Nascimento e Léila Gonzalez deixando uma única pergunta: O que nós fazemos por nós mesmos? Mas, o nós em questão, é o "nós" sociedade. E então, o que nós estamos fazendo pelo nosso Brasil?




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